A COMUNICAÇÃO MUITO GALINÁCEA
Vejamos, então:
Governo – uma comunicação desadequada e totalmente 'decalée'. Em linguagem musical, dir-se-ia que é uma coisa sem "tempo". E que tem andado sempre fora de tom. E com um atraso notável à vista desarmada e que qualquer ouvido nota. Além disso, não soube antecipar os ataques de que Sócrates tem sido vítima. Foi aí reactiva, sempre reactiva. E mal. Nem depois de ver de onde os tiros vêm, soube passar à contra-ofensiva. Nem soube (e é facílimo) explicar a relativa fortuna pessoal do cidadão José Sócrates. Coisa não só facílima como ainda uma matéria tão fascinante que até se pode tornar um enredo de telenovela pois é uma fabulosa saga familiar com todos os ingredientes necessários.
Presidente – se a do Governo é curta e reactiva, a do Presidente é asneirenta. Bem pior que a de Sócrates. Se esta não sabe tratar os assuntos e é reactiva (e ainda aí mal), a comunicação presidencial ao querer ser "modernaça" abre brechas e fornece pontos de ataque. Senão vejamos algumas fragilidades desnecessárias criadas por uma comunicação tonta e pouco, muito pouco, informada. Caso do aniversário presidencial: a "fotografia de família" era a coisa a evitar absolutamente. A partir de agora qualquer investigação jornalística a membros da "família" implica o Presidente. E foi ele que meteu tudo isto ao barulho. A "música" de Luís Montez, por exemplo, não era necessária na agenda presidencial e, manda a mais elementar prudência, que devia ser contornada e evitada. Já a meteram… Cavaco, se daí vierem notas fora de tom, não poderá queixar-se. Foi a sua "cp" que abriu a porta e criou a oportunidade para o ataque.
Caso Dias Loureiro/BPN/SLN: o PR fez, nessa qualidade, várias comunicações oficiais sobre a matéria e até assumiu que confiava no "conselheiro de Estado", numa altura em que já era o único a ter certezas dessas. Fez à volta das suas relações com o BPN e a SLN uma comunicação confusa, "barulhenta", obscura e negacionista… Para, finalmente, ter de admitir que tanto ele como a filha tinham comprado acções a preços fixados arbitrariamente por Oliveira e Costa e vendido as ditas acções, meses depois, da mesmíssima forma. E ganho muito dinheiro. Ora, não havia necessidade…
Quando toda a Lisboa falava da relação pessoal e dos almoços semanais entre Cavaco e Oliveira e Costa, o Presidente veio "esclarecer" que nunca desempenhara cargos no BPN/SLN… Enfim, uma lamentável confusão com o PR a levantar poeira que lhe aterrou em cima. Ao chamar a atenção para as suas relações com o universo BPN e seus protagonistas (Dias Loureiro, Oliveira e Costa, etc.), a tonta comunicação presidencial induz logo o "jornalismo de investigação" a querer saber dos negócios de Luís Montez, da vizinhança da casa de praia de Cavaco, da venda da vivenda Mariani… Ora, mais uma vez não havia necessidade!
Se um "agente infiltrado" na equipa do PR tivesse a missão de destruir a sua imagem de seriedade (agora, tendencialmente reduzida a um "pois, ele é tão sério que nunca se ri") não teria feito melhor que estes pretensos "spindoctors" que assim o arrastam. Depois de terem aberto estas brechas, aviso eu, em termos de perceptions management tudo, mas mesmo tudo, pode por lá passar… E, assim, temos uma frágil e ameaçada imagem presidencial.
Oposição – a "verdade" de Leite é o maior disparate de que a sua comunicação se podia ter lembrado. Senão pense-se bem. A líder da oposição (numa sociedade ainda muito de cultura rural e pouco dada a modernices) tem uma opaca vida afectiva… Qual é a "verdade" sobre a vida de Manuela? Quem era o ex-marido de que ela ainda usa o "Leite"? E tem namorados? Quem é o namorado e que decisões políticas essa relação já a "obrigou" a tomar? Nada disto é verdade? Mas qual é a "verdade"? Nesta matéria e noutras.
Na relação com o Sporting do seu irmão Dias Ferreira? E este tem negócios? Com quem? E como é que esses "negócios" se relacionam com Manuela Ferreira Leite? Não há, não se relacionam, ela até é Estoril Praia e não do Sporting… Bom, qualquer um pode crer mas também querer e até exigir a "verdade"!
A "verdade" sobre impostos, heranças, impostos sucessórios, saber o que tem em comum com o irmão… Podem dizer que "por aí não há nada". OK. Mas, a verdade é que a realidade importa pouco, as percepções é que são críticas! E a "cp" de MFL abriu – escancarou, mesmo – as portas a uma exigência de verdade que ainda só não trucidou MFL porque, como vimos a comunicação de Sócrates é, pelo menos, singela e "naive", com um espírito muito... simples.
Síntese: se, para além do borbulhar do quotidiano, estas "comunicações" revelam alguma coisa, isso é o seu carácter amador, inconsistente e até patético. O que diz muito sobre a "qualidade" e as fracas exigências dos seus "clientes", os nossos queridos dirigentes. Talvez um dia, eles ainda venham a perceber a base sobre a qual a "cp" tem de evoluir: isso da "realidade" agora não interessa nada, as percepções é que são críticas! Isto é a base de partida para uma gestão séria e eficaz. A gestão é assunto de especialistas e nunca dos curiosos e talentosos amadores que "põem" notícias.
P.S.: Sócrates é rico, pelo menos, desde a morte do seu avô materno, mas cheira-me que, se não formar governo e ficar com tempo, para o ano ele vai ganhar imenso dinheiro. Imenso. E, de mão beijada, em indemnizações. Vai ficar muito mais rico! Por isso me parece que os "top management" de algumas televisões e de outros media ainda vão pôr velas à Nossa Senhora e a todos os santos das suas devoções para que Sócrates ganhe as eleições, seja primeiro-ministro e não tenha tempo nem disponibilidade para se ocupar deles… Veremos se têm sorte e se há milagres.
Tags: inteligência económica, perceptions management, psd, governo, Cavaco, campanhas e eleições, guerra de informação
Sem comentários:
Enviar um comentário