terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Verdade sobre o Monstro...

QUEM CRIOU E DESENVOLVEU

O MONSTRO QUE NOS AMEAÇA?

 

É um gozo ver como o rigor e alguma ingenuidade da ciência podem escaqueirar, sem em tal ter pensado, uma artificial mas sofisticada construção ideológica... Uma mentira infinitamente repetida qu estava à beira de se tornar uma verdade comezinha. No blog da SEDES:

Monstro.jpg picture by claromotime 

 

Afinal, quem anda a alimentar o monstro?

 

Publicado por Ricardo Reis a 3:59 em Economia, Finanças Públicas, Pensamento Político, Política Nacional

 

Na minha coluna deste próximo Sábado no i discuto o caminho previsível da despesa pública (carinhosamente apelidada "o monstro" por Cavaco Silva) no seguimento do défice nas contas públicas.

 

Para escrever a coluna consultei um dado simples para medir o tamanho do monstro: o rácio dos gastos do Estado em consumo público em relação ao PIB. Reuni dados desde o início de 1986 e calculei a taxa anual de crescimento do monstro durante 4 períodos: os governos de Cavaco, Guterres, Durão-Santana, e Sócrates. O que descobri, sinceramente, surpreendeu-me.

 

O período de maior crescimento do monstro foram os anos em que o PSD estava no poder, com Durão Barroso e Santana Lopes: 0,350,61% por ano. Segue-se Cavaco (0,35%), e só depois Guterres (0,20%) e por fim Sócrates (0,11%). Quer dizer, o grande alimentador do monstro é o PSD, que supostamente é o partido mais à direita e fiscalmente mais responsável em Portugal. E o inventor do termo, numa crítica à governação de Guterres, afinal alimentou mais o monstro do que qualquer governo PS.

 

O que explica isto em Portugal? Não conheço bem a realidade política no país; pode-me alguém explicar afinal qual é o partido que defende e pratica o corte no tamanho do Estado? Ou estou a perceber mal as divisões políticas, e afinal a diferença entre as preferências dos partidos está na composição da despesa e não no seu tamanho?

 

(Nos EUA nos últimos 25 anos, a despesa pública durante Clinton foi em média semelhante à durante Reagan e os dois Bush. Por isso, hoje em dia a maioria dos politólogos não distinguem os dois partidos em termos do tamanho do Estado, mas antes na composição da despesa, mais militar no caso dos republicanos e mais no Estado-Providência no caso dos democratas. Isto parece estar rapidamente mudar com o plano de Obama de aumentar o Estado no sector da saúde.)

 

Uma nota final: Não é minha intenção entrar no debate político de quem é melhor ou pior, mais sério, ou menos determinado. Coloco esta questão, neste espaço de debate, apenas para tentar perceber este facto importante da economia política em Portugal nos últimos 20 anos.

 

9 Comentários para "Afinal, quem anda a alimentar o monstro?"

 

  1. # LA-Ca 23 Jul 2009 as 7:38

"Sabemos que os partidos de direita dão menos importância que os de esquerda aos bens e serviços públicos. Dado que é eleitoralmente perigoso acabar com certos serviços públicos (como escolas e maternidades), um cínico dirá que os partidos de direita, quando no poder, acumularão défices orçamentais. Assim, quando a situação se tornar insustentável, o Estado terá de reduzir a oferta de serviços públicos. Já um governo de esquerda, se valoriza os serviços públicos, não pode permitir que as contas públicas entrem em descalabro. Ou seja, será de esperar que os governos de direita acumulem défices e que os partidos de esquerda se vejam obrigados a corrigi-los. Estará esta predição correcta?

Em Portugal, a experiência diz-nos que sim, afinal todos os governos socialistas (à excepção do de Guterres) foram obrigados a "meter o socialismo na gaveta", adoptando políticas restritivas para corrigir os défices que vinham dos governos do PSD. Song, Storesletten e Zilibotti (professores de Economia) estudaram os dados para os países da OCDE. As conclusões são claras: em regra, quando estão governos de direita no poder, os défices orçamentais aumentam e a dívida pública acumula-se."

Retirado daqui: http://aguiarconraria.blogsome.com/2007/07/20/o-cinismo-da-ciencia-economica/

 

  1. # causavossaa 23 Jul 2009 as 8:19

Caro Ricardo Reis

Possivelmente depois de ter saído deste cantinho à beira mar plantado que perdeu as referências a este mix potentado de país. Aqui as singulariedades têm-se desdobrado diariamente e o Estado já não é o farol dos posicionamentos, antes o farol dos maus comportamentos.
Há ainda alguns que pensam que as elites são o farol e o caminho. Para mim que recebi uma gargalhada sonora e um olhar de piedade Imperial de um ex-secretário de Estado, bom vivant, a um meu comentário naif de «é difícil ganhar-se dinheiro em Portugal a trabalhar» o farol tem servido apenas de lanterna na procura dos escolhos onde se lapam os comendadores Acácio com o rabo de fora.
Afinal caro Ricardo Reis não se canse a tentar perceber e faça como Fernando Pessoa: evite a Presença neste 5º Império mal frequentado!

 

  1. # Ricardo Reisa 23 Jul 2009 as 12:34

Caro LA-C,

Repare que essa teoria "esfomear o monstro" preve que os governo de direita tenham um *defice* alto, mas uma despesa publica constante ou mais baixa, com o intuito de reduzir a *despesa* do governo futuro. O facto que apontei neste post, foi que a despesa *sobe* quando o partido supostamente de direita esta' no poder. Nao e' esta a previsao das teorias cinicas que voce aponta. (Mais sobre esfomear o monstro na minha coluna de Sabado no i.)

 

  1. # LA-Ca 23 Jul 2009 as 14:10

De acordo, o meu texto não era tanto sobre a despesa mas sim sobre o défice.

 

  1. # Paulo Lobatoa 23 Jul 2009 as 17:53

Estimado prof. Ricardo Reis

Para que não cheguemos a conclusões erradas, e para bem do debate público, solicitava-lhe que nos revelasse a sua opinião acerca destes rácios.
Isto é, seria possível qualificar estes rácios em função do tempo e das circunstâncias a que se reportam?

Cumprimentos

 

  1. # Ricardo Reisa 23 Jul 2009 as 19:05

Caro Sr. Lobato,
Sinceramente nao tenho opiniao, para alem da minha curiosidade como cientista social interessado em economia politica. Acho que e' um facto estimulante.

O meu contexto pessoal e' o livro "Political Cycles and the Macroeconomy" de Alesina, Roubini and Cohen que tem uma serie de factos semelhantes sobre os partidos republicano e democrata nos EUA, e parte dai para construir varias teorias sobre como as eleicoes e a alternancia de partidos no poder afecta o ciclo de negocios.


Ja' quanto ao contexto em que o facto acima ocorre em Portugal, estava 'a espera que alguns leitores me explicassem. Nao sei o que e' que os governos destes 5 primeiro-ministros tiveram de especial, ou que circunstancias extraordinarias enfrentaram.

 

  1. # Maria Teresa Monicaa 23 Jul 2009 as 19:44

Não há nenhum partido político em Portugal que defenda menos Estado, embora o CDS afirme o contrário. Veja-se o que aconteceu quando governou recentemente em coligação com o PSD.


Não deixa de ser irónica a sua constatação quanto à despesa pública efectuada por Cavaco Silva. Eu nunca tive dúvidas de que ele é social-democrata. E, enquanto funcionária pública, lembro-me que ele, quando Primeiro Ministro, foi generoso com a administração pública.


Daí nunca ter percebido bem o que o actual Presidente da República queria dizer com aquele artigo acerca do monstro.

 

  1. # José António Girãoa 23 Jul 2009 as 21:45

Caro Ricardo Reis:

Pessoalmente estou de acordo com a afirmação da Teresa Mónica: Em Portugal nenhum partido político defende menos Estado. Alguns (todos?)preferem dizer melhor Estado, assim contemplando o facto de grande parte da população viver encostada e "à conta" do mesmo: e não são só os funcionários das administrações públicas, mas também os fornecedores, gabinetes de estudos, consultoria, etc. para não falar dos que dependem dele em termos de várias formas de subsídios ( embora nem todos sejam consumo público). Esta dependência do Estado num País pequeno e pobre explica muito da dificuldade em ver os partidos a propor medidas concretas para redução da despesa, embora por vezes alguns falem dessa necessidade.

 

Acresce que o período dos governos de Cavaco Silva coincidiu não só com a entrada de Portugal na UE ( e correspondente acesso aos fundos comunitários) , após o longo período de "vacas magras" imposto pelo FMI,na sequência da revolução de Abril, como a uma visão, que se revelou ingénua, de que muitos dos problemas poderiam ser resolvidos basicamente com mais recursos: reformas nas carreiras dos funcionários públicos (incluindo professores) e mais dinheiro para vários sectores (justiça, ensino, etc). Em resumo, e na minha interpretação (enquanto ausente do País nesse período) havia dinheiro e um certo optimismo de que as medidas pudessem resultar.


Posteriormente, e pelo menos a partir do início deste século, já ninguém pode, com credibilidade, pretender resolver os problemas do País "aumentando o monstro". Mas, para já, não se vê nenhum responsável político a dizer como "emagrecer o monstro".

 

  1. # Maria Teresa Monicaa 23 Jul 2009 as 22:18

Tanto quanto percebi, Ricardo Reis vive nos EUA e não deve estar a par das movimentações político-partidárias na blogosfera portuguesa.

Assim sendo, gostava de lhe comunicar que, tendo dado uma vista de olhos agora pelos blogues socialistas e alguns apoiantes explicitamente do governo de José Sócrates, estes estão eufóricos com o seu post, que está a ser amplamente divulgado.

 

Forneceu assim "artilharia" pesada contra a candidata a primeira-ministra pelo PSD, cavaquista de sempre, numa altura de campanha eleitoral. Suponho que essa não era a sua ideia, pois advertiu que não está nada familiarizado com os meandros da política portuguesa. Mas a sua ignorância acerca das "lutas caseiras" não é mencionada nos blogues socialistas.

 

Relativamente ao post de José António Girão, gostaria de acrescentar que após a revolução do 25 de Abril, só me lembro de haver alguma folga no dito "monstro" quando, após o difícil período revolucionário e estabilização democrática, e da difícil luta travada por Mário Soares e Hernâni Lopes, no governo de bloco central, Cavaco Silva cativou o eleitorado insurgindo-se contra esta aliança contra-natura e com uma auto-proclamada gestão de tipo tecnocrata, que geriu como soube os abundantes fundos comunitários. Foi um bodo não tanto aos pobres mas para alguns que perceberam como aproveitar para as mais diversas extravagâncias.

Se exceptuarmos Salazar, desde pelo menos há 200 anos que os portugueses se queixam do "monstro" e tentam lidar com ele. Será agora que se conseguirá ultrapassar o dilema? Duvido muito. 

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